Penthouse - uma ocupação temporária

As duas instalações de Susana Mendes Silva apresentadas na casa sugerem armadilhas e parecem fazer referência uma à outra. Em conjunto formam uma intervenção que deriva da procura de estabelecer um jogo entre uma ameaça latente e a desconstrução do artifício. Numa das instalações, S/Título (2005), encontramos um tapete feito de berlindes de vidro que se adequa ao espaço onde está exposto, junto à banheira da casa de banho. Esta peça tem a particularidade de suscitar-nos uma situação de impasse entre atracção e desconfiança. Os objectos são espelhados e visualmente sedutores, atraem o espectador, mas o seu arranjo e disposição no espaço implicam atenção e cuidado. É que a sua forma circular e a combinação desajustada podem sujeitar aquele que os pise a uma queda.

O trabalho de Susana Mendes Silva instalado no quarto em frente, Obstáculo (2005), também consiste numa estrutura frágil que não permite a identificação imediata do engano que promove. Ao constituir uma barreira criada com fio de nylon no vão da porta do quarto, esta instalação pode sem dúvida impedir a entrada do espectador no seu interior, mas na medida em que é pouco resistente, o seu efeito real poderá não ser de todo verificável. Todavia sendo quase invisível ao olhar do espectador, também poderá traduzir os obstáculos implícitos, as fronteiras que por vezes se interpõem à percepção sob o modo de uma aparente e subtil transparência.

Sandra Vieira Jürgens
In catálogo da exposição Penthouse - uma ocupação temporária, Virose/Mimesis, Porto, 2005.