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Distúrbio
2006
Instalação
Cabelos e pregos
Dimensões variáveis

(Re)Volver
Plataforma Revolver
curadoria de Filipa Oliveira
com Adia Millett, Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, Miriam Bäckström, Mona Hatoum, Narelle Jubelin, Susana Mendes Silva and Wangechi Mutu
Uma nova proposta de visualização do vazio é também estratégia fundamental da instalação de Susana Mendes Silva (Lisboa, 1972), Distúrbio, formalmente constituída por um plano horizontal que ocupa toda a casa de banho em linhas rectas separadas entre si por quatro centímetros de distância. A altura do plano coincide com a estatura real da artista (a inscrita no seu bilhete de identidade) 163 cm; e as linhas que o constituem são fios de cabelo castanho escuro ligados por pequeníssimos nós para perfazerem a distância de uma parede à outra. O plano, apesar da sua fragilidade, impossibilita o uso normal da divisão: é um corpo estranho.
Ao rigor formal que constitui esta peça é contraposta uma dimensão de extrema delicadeza. A artista evoca o universo dos hábitos quotidianos, seja na utilização da própria casa de banho como nos tiques que podem estar associados ao cabelo. Qualquer um destes gestos banais evocados são já imperceptíveis no quotidiano. A sua existência é-nos quase invisível, sendo constituintes de uma absoluta normalidade. Assim como é quase imperceptível a presença destes fios, revelando no entanto uma performance de intimidade que coloca o espectador, assim que se apercebe da sua existência, num transgressor da privacidade alheia. Cada linha multiplica o tecer de gestos aparentemente banais, no entanto a repetição e a obsessão que caracterizam esta obra analisados segundo uma dimensão psicanalista revelam potenciais distúrbios associados ao silêncio e à privacidade do universo íntimo feminino.

Excerto do texto "(O (re)volver do espaço e das coisas"
por Filipa Oliveira no catálogo (Re)Volver, p.25-26, 2006